16 março 2009

A Casa de Anne Frank
















Tive o grande prazer de visitar a Casa de Anne Frank em inicios de Fevereiro, e assim sendo gostaria de aqui dedicar umas "linhas" a essa esplêndida visita. (dentro da Casa - Museu é proibido filmar fotografar, assim sendo estas fotos são retiradas de www.annefrank.org e do vasto mundo da internet)

«A Casa de Anne Frank abriu ao público em 1960 e desde então, tem sido anualmente visitada por centenas de milhares de pessoas».

Anne Frank foi uma das milhoes de vitimas da perseguicao aos judeus na Segunda Guerra Mundial. Anne e a familia residiam na Alemanha quando em 1933 Adolf Hitler ascendeu ao poder e introduziu uma politica anti-semita. Para segurança de todos, a familia Frank, de origem judaica, mudou-se para a Holanda. Em Maio de 1940 os alemães invadiram a Holanda e implementaram medidas no sentido de dificultar a vida aos judeus. A familia Frank tentou escapar a esta perseguição esondendo-se num anexo onde passariam a viver "mergulhados" (designação que se dava ao desaparecimento de pessoas perseguidas que passavam a ter uma existencia ilegal ou clandestina).

A 6 de Julho de 1942, Otto Frank, a mulher Edith Frank-Holländer e as duas filhas Margot e Anne mudaram-se de esconderijo, na Prinsengracht. Mais tarde, juntaram-se a eles Fritz Pfeffer e hermann e Auguste van Pels com o seu filho Peter.
A casa divide-se em duas partes: a parte da frente e as traseiras (ou o Anexo). Na parte da frente encontravam-se as instalações da empresa de Otto Frank, onde se situavam no rés-do-chão o armazem e no andar de cima os ecritórios e o deposito. O armazem estendia-se por baixo do Anexo. Nos dois andares do Anexo viviam as oito pessoas escondidas, que cerca de dois anos depois foram denunciadas á policia e deportadas. Os móveis foram apreendidos por ordem dos nazis. Depois da guerra, Otto Frank achou por bem manter o anexo vazio.

Durante todo tempo em que viveu no esconderijo, Anne Frank escreveu no seu diário tudo sobre a vida no anexo, retratando sobretudo os seus pensamentos, os sentimentos de isolamento dos clandestinos e a angustia e o medo permanentes se serem descobertos. O diário de Anne Frank foi publicado pela primeira vez na holanda em 1947 e foi traduzido até á data em mais de 65 línguas.




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á medida que entramos na Casa de Anne Frank vão-nos surgindo estes compartimentos pela ordem que se segue: -----> -----> -----> ----->
  1. Vestíbulo, armazém, e sala de moagem de especiarias;
  2. Escritório de Victor Kugler;
  3. Escritório de Miep Gies, Jo Kleiman e Bep Voskuijl;
  4. Depósito;
  5. Vestíbulo com estante giratória (acima em imagem);
  6. Quarto de Otto, Edith e Margot Frank;
  7. Quarto de Anne Frank e Fritz Pfeffer;
  8. Casa de Banho;
  9. Sala Comum e quarto de Hermann e Auguste van Pels;
  10. Quarto de Peter van Pels;
  11. Sótão da parte da frente da casa;
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1. Vestíbulo, armazém, e sala de moagem de especiarias

Á entrada dos escritórios de Otto Frank deparamo-nos com várias fotos de Anne Frank, tiradas em 1942.

Há-de chegar o dia em que esta guerra medonha acabará, há-de chegar o dia em que também nós voltaremos a ser gente como os outros e não apenas judeus! Nunca poderemos ser só holandeses, ingleses ou súbditos de qualquer outro país. Seremos sempre, além disso, judeus. E queremos sê-lo.
Anne Frank, 9 de Abril de 1944

Durante o dia não podemos pisar o chão com força e temos quase de cochichar em vez de falar, pois lá em baixo, no armazém, não nos devem ouvir.
Anne Frank, 11 de Julho de 1942


Otto Frank tinha duas empresas. Numa delas comercializava-se "OPEKTA" um ingrediente utilizado para fazer doce. Na outra a PECTACON, que mais tarde passou a chamar-se "Gies en Co", preparavam-se especiarias para carne. Numa parte deste armazém moíam-se as especiarias. Os funcionários do armazém não faziam ideia de que no andar de cima se encontravam pessoas escondidas a viver no anexo.

Temos muito medo que os vizinhos nos consigam ver ou ouvir.
Anne Frank, 11 de Julho de 1942


2. Escritório de Victor Kugler

O pessoal do escritório ajudava os clandestinos levando-lhes diariamente mantimentos, livros e jornais. Formalmente Kugler era o director da "Gies en Co". Quando a partir de 1941, os judeus foram proibidos de exercer a actividade empresarial, Otto Frank passou as suas empresas para o nome de Victor Kugler, contudo na pratica, Otto Frank continuava a ser o director e reunia diariamente com Victor Kugler, mesmo depois de ter "mergulhado".

Na quinta-feira á noite estive lá em baixo com o pai no escritório do Kugler a trabalhar na lista de devedores. O sitio era medonho e fiquei contente quando terminámos a tarefa.
Anne Frank, 7 de Novembro de 1942


3. Escritório de Miep Gies, Jo Kleiman e Bep Voskuijl

No escritório trabalhavam Miep Gies, Bep Voskuijl e Jo Kleiman. Estes tinham de fazer o seu trabalho normalmente e não podiam deixar perceber que existiam clandestinos escondidos no anexo.

A Miep é o nosso burro de caga, coitada! Quase todos os dias descobre alguma hortaliça e trá-la na sua saca amarrada á bicicleta.
Anne Frank, 11 de Julho de 1943

Bep e Kleiman tambem se encarregam bem das nossas coisas, muito bem até.
Anne Frank, 26 de Maio de 1944

Ontem, ao espreitar pela cortina, vi dois judeus. È uma sensação estranha, quase como se eu os traísse e estivesse aqui para espionar a sua infelicidade.
Anne Frank, 12 de Dezembro de 1942

4. Depósito

Pouco tempo depois da detenção dos clandestinos, o anexo foi totalmente esvaziado. Quando o esconderijo foi tornado num museu anos mais tarde, Otto Frank quis que os quartos se mantivessem vazios para sempre.
No entanto, para que os visitantes tivessem uma ideia de como teria sido o esconderijo, foram construídas maquetas em 1960, de acordo com a sua descrição.
Na ultima parte deste andar guardavam-se as especiarias. Visto que as mesmas não podiam estar directamente expostas á luz do dia, as janelas foram pintadas. Era impossível ver o Anexo em qualquer parte da casa da frente.

Inúmeros amigos e conhecidos foram levados das suas casas e um destino terrível os espera. Noite após os automóveis cinzentos e verdes dos militares atravessam as ruas (...) Só consegue escapar-lhes quem "mergulhar" a tempo.
Anne Frank, 19 de Novembro de 1942


5. Vestíbulo com estante giratória (acima em imagem)

A estante giratória foi feira á medida para o efeito pelo pai de Bep voskuijl, escondia a porta de entrada do Anexo.
Nas janelas do vestíbulo colou-se papel opaco de fibra de vidro para esconder o Anexo dos olhos do mundo. As escadas a descer, por debaixo de uma placa em vidro na esquina á direita, conduziam aos escritórios. Os cumplíces utilizavam estas escadas para levar comida para o esconderijo, bem como tudo o resto.

O nosso "esconderijo" é agora perfeito. O Sr. Kluger teve a boa ideia de tapar a porta de entrada do Anexo. Agora, antes de descermos, temos de nos curvar e depois dar um saltinho porque o degrau despareceu.
Anne Frank, 21 de Agosto de 1942

6. Quarto de Otto, Edith e Margot Frank

Neste quarto dormiam Otto e Edith Frank com a filha Margot. Na altura, o quarto estava cheio de cadeiras, armários e camas. Na parede á direita encontra-se um mapa da Normandia por onde Otto Frank, depois da invasão, seguia os movimentos das tropas aliadas. Ao lado, vêem-se os riscos a lápis que indicavam o crescimento da Anne e da Margot durante o período em que todos viviam "mergulhados" no anexo.

«THIS IS THE DAY» disse ao meio-dia a rádio inglesa e com razão! Começou a Invasão! Tropas de pára-quesdistas inglesas conseguiram lançar-se na costa francesa. O Anexo está como que em delírio. Será então verdade que a libertação, há tanto ansiada libertação, sempre esta a aproximar-se?
Anne Frank, 6 de Junho de 1944


7. Quarto de Anne Frank e Fritz Pfeffer

Este é o quarto de Anne Frank e Fritz Pfeffer. Anne passava muito tempo na sua pequena secretária a escrever o diário. Para tornar o quarto mais alegre, ela decorou as paredes com todos o tipo de imagens. Na parede á esquerda existem, entre outras, postais ilustrados da família real neerlandesa e das princesas Isabel e Margarida de Inglaterra. Junto á janela encontra-se um poster publicitário da Opekta, a empresa de Otto Frank.

O nosso quarto até agora esta completamente nu. O pai trouxe toda a minha colecção de postais de estrelas de cinema e de vistas, e eu transformei-os, com cola e pincel, em lindos quadros para as paredes. Agora o quarto tem um aspecto alegre.
Anne Frank, 11 de Julho de 1942


8. Casa de Banho

Os clandestinos tinham de utilizar a sanita e o lavatório o menos possível durante o dia. A canalização da água e do esgoto passava pela parede do armazém onde trabalhavam pessoas que não sabiam da existência das pessoas escondidas no prédio.

A Margot e mãe estão nervosas.« Sst...pai, quieto, Otto, sst...Anda cá, já não podes deixar a água correr. Anda devagar!» Estes foram os vários avisos para o pai na casa de banho. Ás nove horas em ponto ele tem de estar na sala. Nem uma gota de água pode correr, já não se pode ir á casa de banho, não se pode andar, tudo quieto.
Anne Frank, «livro de contos», 6 de Agosto de 1943


9. Sala Comum e quarto de Hermann e Auguste van Pels

O quarto de dormir de Hermann e Aususte van Pels servia igualmente de sala de estar comum, onde os clandestinos passavam muito do seu tempo. Aqui cozinhava-se, comia-se, estudava-se, lia-se e fazia-se ginástica. Os clandestinos conseguiam preparar um jantar especial com poucos meios. Mais tarde, tornou-se cada vez mais difícil para os cúmplices prover os oito moradores do Anexo de mantimentos.

Para amanha já não temos um pedacinho de pingue, para já não falar de manteiga e margarina. O nosso almoço: couve de conserva de barrica! É incrível como a couve cheira mal depois de ter estado guardada durante todo o ano!
Anne Frank, 14 de Março de 1944


10. Quarto de Peter van Pels

O quartinho de Peter era minúsculo. Havia uma escada onde se guardavam os mantimentos, Anne e Peter passavam muito tempo no sótão. Era o único sitio onde podiam estar sozinhos e de onde podiam ver o Castanheiro.

Ontem o Peter fez anos. Às oito horas subi com ele para o quarto e vimos as prendas. Teve prendas bonitas, entre outras um jogo, um aparelho para fazer a barba e um isqueiro.
Anne Frank, 9 e 10 de Novembro de 1942


11. Sótão da parte da frente da casa

A 4 de Agosto foi feita uma denúncia anónima por telefone ás SS alemãs: Havia judeus na Prinsengracht 263.
Tinham sido traídos. Mesmo após um vasto inquérito no final da guerra, até hoje não se sabe quem foi o autor da denuncia.
Os oito clandestinos e os colaboradores Jo Kleiman e Victor Kugler foram presos. Contra Miep Gies e Bep Voskuijl não foram tomadas medidas pelos nazis. Jo Kleiman e Victor Kugler foram transferidos da prisão para o campo de concentração em Amersfoort. Todos os colaboradores sobreviveram á guerra.
Os Clandestinos foram deportados para o campo de Westerbork. Daí foram transformados para o campo de extermínio de Auschwitz.

A emissora inglesa fala de câmaras de gás. Sinto-me horrivel.
Anne Frank, 9 de Outubro de 1942



Hermann van Pels faleceu em Setembro ou Outubro de 1944, numa câmara de gás no campo de esterminio de Auschwitz.

Fritz Pfeffer adoceceu e morreu por exaustão no dia 20 de Dezembro de 1944 no campo de concentração de Neuengamme.

Edith Frank adoeceu e morreu por exaustão no dia 6 de Janeiro de 1945 no campo de exreminio de Auschwitz.

Margot Frank morreu de tifo em Março de 1945, no campo de concentração de Bergen-Belsen.

Anne Frank tambem morreu de tifo, poucos dias depois de Margot, em Março de 1945 em Bergen-Belsen.

Auguste van Pels faleceu em Abril de 1945 durante o transporte de Bergen-Belsen para o campo de concentração de Theresienstadt.

Peter van Pels morreu no dia 5 de Maio de 1945 na enfermaria do campo de concentração de Mauthausen.

Otto Frank sobreviveu ao campo de exterminio da Auschwitz. Regressou em Junho de 1945. Passado algum tempo decidiu publicar os diarios da sua filha Anne que ela tinha deixado para tras no momento da detenção. Em 1953, Otto Frank casou novamente e com a segunda mulher, Elfriede Markovits, mudou-se para Basel (Suiça). Otto cedeu a asministração dos direitos de autor do diario da sua filha á Fundação Anne Frank, tabem sedeada em Basel, e veio a falecer em 1980, com 91 anos de idade.

Para construir um futuro, temos de conhecer o passado.
Otto Frank, 1967





Textos reproduzidos a partir de outros na Casa-Museu de Anne Frank em Amesterdão.



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