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22 setembro 2013

Henrique Evangelista Dias Tavares - Um Valecambrense na Segunda Guerra Mundial


Natural de Vila Cova de Perrinho, Vale de Cambra nasceu em plena Primeira Guerra Mundial (16.9.1916).
Combateu na Frente Leste, integrado na Divisão Azul da Wehrmacht onde participou na maior operação militar de todos os tempos: a invasão da União Soviética pelas forças Nazis de Hitler.

Estes soldados de Hilter nascidos entre o Minho e o Algarve faziam parte do corpo de tropas que o ditador espanhol Franco enviava para apoiar a guerra de Hitler na imensidão das estepes das florestas russas.

Fez então parte dos 159 voluntários portugueses que combateram, comprovadamente, por Hitler na frente russa, estes homens foram permeáveis ao ambiente político de uma época favorável aos regimes ditatoriais, mas também se alistaram aventureiros e mercenários para tomar parte na "cruzada antibolchevique" apregoada pelos fascismos

Para conhecer melhor a história destes bravos portugueses aconselha-se a consulta do nº 21 da Visão História.

07 novembro 2012

Os Espiões da Segunda Guerra Mundial

Atrás das Linhas do Inimigo

Os Espiões do Dia D

Sabotagem Atómica

Treinados para matar

07 setembro 2010

Açores na Segunda Guerra Mundial - Fotos

Um policia da RAF (à esquerda), e um sargento Português, de plantão á entrada do aeroporto das Lages.

Um Sargento Intérprete da RAF discute pormenores com mulheres portuguesas que se comprometeram no trabalho de lavandaria para o pessoal da RAF nas Lages.

Pilotos da 84ª Unidade de Embarque marcham sobre a ponte do Castelinho de São Sebastião, uma fortaleza do século XVI, em Angra do Heroísmo, onde estavam aquartelados.

Royal Engineers e trabalhadores portugueses a trabalhar na construção das novas pistas das Lages, aqui compartilhando uma pausa junto a uma pilha de tapetes Marston.

Uma Fortaleza Voadora Boieng Mark II em testes a passar por um carro-de-bois português nas Lages.

Vista aérea do aeródromo das Lages, onde se vê aeronaves estacionadas do Comando Costeiro ai baseado e também B-25 da Força Aérea Americana que faziam transporte Norte de África - Estados Unidos.

Vickers Warwick ASR Mark I, HK-E ', n º BV356 do 269º Esquadrão da RAF baseado nas Lages - Açores, num voo sobre a Terceira.

Foto aérea do aeródromo de Lages, na ilha Terceira - Açores, a partir de leste.

´Um carro blindado da RAF e um carro-de-bois no aérodromo dos Açores.


18 maio 2010

A Rota do Ouro Nazi - Canfranc



«Canfranc podia ser a cena de um filme como Casablanca, embora a história dessa travessia de fronteiras durante a Segunda Guerra Mundial ainda está por se escrever. A rota do ouro nazi para a Península Ibérica, a presença das SS e da Gestapo, a porta para a fuga de muitos judeus e até dos vencidos alemães, e os episódios de contra-espionagem dignos de um romance de John Le Carré. Tudo isto aconteceu em Canfranc entre 1942 e 1945.

A Alfandega internacional foi reaberta após ter sido fechada durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) para impedir uma invasão de França. Pouco depois, em 1942 e 1943, viveu uma actividade que nunca mais foi a mesma até ao seu encerramento em 1970. A suposta neutralidade da Espanha durante o conflito que resultou num período de turbulência na Europa vai chegar para movimentar 1.200 toneladas de mercadorias por mês na rota Alemanha-Suíça-Espanha-Portugal, entre elas 86 de ouro nazi, roubado aos judeus.

Alemanha controlou a Alfandega internacional de Canfranc durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) com um grupo de oficiais da SS e o membros da Gestapo, que viviam no hotel da estação e numa cidade próxima. A Espanha não estava em guerra, mas Franco tinha uma posição de não-beligerância 'sui generis'. Devia devolver a ajuda que Hitler lhe deu na guerra Civil o que se traduziu no envio de toneladas de Volfrâmio de minas na Galiza, um mineral essencial para proteger os seus tanques e canhões. Muitas dessas explorações foram abertas por empresas alemãs que operavam em Espanha através da Sociedade Sofindus(Sociedade Financeira Industrial), uma holding alemã muito bem relacionado com Demetrio Carceller, diretor do Instituto Espanhol de Moeda Estrangeira (IEME), o único órgão que poderia comprar ouro...

Os "Documentos de Canfranc", cujo conteúdo Herald revelou esta semana, provando que em troca do apoio estratégico para o prolongamento da guerra, a Espanha recebeu, no mínimo, 12 toneladas de ouro e 4 de ópio, enquanto Portugal atingiu 74 toneladas de ouro, quatro de prata, 44 armas, 10 relógios e outros itens, o resultado da pilhagem dos judeus. Esses dados podem ser apenas a ponta do iceberg. Os originais desses documentos, enviados para o chefe de tráfego de mercadorias de Madrid, não existem. Portugal foi a porta de entrada de mercadorias da América do Sul e, no final da II Guerra Mundial, a saída de muitos alemães que encontraram refúgio na Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai. Por isso, recebia mais ouro.
"Havia queijos da Argentina, com uma pele muito espessa para suportar a viagem ou o açúcar que chegava a Lisboa", recorda Julio Ara.

Em Irun e Port Bou os nazis permaneceram no outro lado da fronteira, na França ocupada, mas em Canfranc viviam do lado espanhol na estação, localizada na Espanha, havia dupla jurisdição.

Concertos na estação

«Os alemães viviam na estação e realizavam concertos de piano na sala de jantar. Eles eram muito educados. Dançavam Valsa com as meninas de Canfranc e ofereciam-lhes chocolates. Eles eram engenheiros ou químicos e nós ignorantes que tínhamos muita fome durante a guerra, confessa um vizinho de Canfranc que na altura teria 14 anos e agora prefere manter-se no anonimato. Se alguma história de amor foi idealizada, como em Casablanca, não perdurou.

"Embora estivessem a servir no lado francês não havia nenhum problema a passar para o lado espanhol. Alguns viviam na pousada Marraco. Havia seis oficiais fixos e outros á paisana da Gestapo, mas às vezes chegavam grupos de vinte soldados uniformizados que vinham da frente para descansar", acrescenta.

Os vizinhos de Canfranc, abalados ainda pelos efeitos da Guerra Civil fugiram para França, mas agora não podiam atravessar a fronteira. Precisavam de um Salvo Conduto. "Desde Anzánigo, era uma área impermeabilizada", diz um vizinho. Um dos documentos "Canfranc", datado de 24 de maio de 1940 e assinado pelo super intendente da Unidade de Pesquisa e Vigilância, disse que "todo aquele que vivia na área a partir de 18 de Julho de 1936 devia apresentar-se num prazo de oito dias na Esquadra com a relação dos que viviam em sua casa, com os certificados das pessoas e empresas. "O não cumprimento levava ao regresso forçado á sua antiga residência ", avisa.

Os Carabinieri, a Guardia Civil e os oficiais SS eram inflexíveis com o roubo de bens, como relógios, que eram transportados para Portugal. "Roubaram uma caixa e eles procuraram-na. Um rapaz chegou a ser enforcado e outro multado em muito dinheiro ", contam em Canfranc.

A falta de liberdade de movimento juntava-se á fome mitigada pelas mercadorias que eram descarregadas. O salário médio de um trabalhador era de 200 pesetas por mês. Então, sempre se desviava alguma coisa dos comboios para casa. "Sacavam-se latas de sardinha, açúcar, óleo, café ou vinho que enviavam os portugueses da Madeira. Menos mal, pois passava muitas mercadorias e podíamos levar umas coisas, porque havia muita fome ", diz Daniel Sanchez, 87 anos, um dos poucos canfraneros que pode contar que carregou caixas com lingotes de ouro ás suas costas.

O ouro nazi chegava por comboio a Canfranc de acordo com os documentos descobertos pelo francês Jonathan Diaz na estação em novembro do ano passado, após a gravação de um anúncio da loteria de Natal. Entre julho 1942 e dezembro de 1943 atingiu 45 comboios, seis deles com destino a Espanha ("importação" aparece no papel) com 12 toneladas de ouro, e o resto do "trânsito" com destino a Portugal, que recebeu 74 toneladas de metais preciosos. Daniel descarregava o ouro dos comboios suíços pela ponte internacional e colocava-o em camiões suiços que se encarregavam de leva-lo para Madrid e Portugal, através das fronteiras de Badajoz, Valencia de Alcántara e Fuentes de Oñoro.

O historiador Pablo Martín Aceña, director da comissão espanhola que investigou as compras de ouro nazi pela Espanha, disse que a Península Ibérica recebeu estes carregamentos até agosto de 1945, por Hendaya, Port Bou e Canfranc, mas não sabe em que proporção.«Os serviços de inteligência dos aliados contabilizaram 135 saídas da fronteira franco-suíça de Bellegarde para a Península Ibérica», aponta.

Estes comboios transportavam "um total de 300 toneladas ". Portugal comprou muito ouro que saiu da Bélgica e Holanda. O que foi recebido por Espanha (IEME), é evidente a partir das contas que foram investigadas no Reichbank, o Banco Nacional Suíço e o IEME. Outra coisa é que as empresas espanholas na Alemanha cobraram em ouro e depositaram-no em Londres ou Zurique. Calcula-se que 20 toneladas de ouro entraram em Espanha pela troca de Volfrâmio ", assinala Martin Aceña.
Esse Volfrâmio que ainda pode ser visto, 60 anos mais tarde, no cais e nas vias mortas da estação de Canfranc.
Portugal e Espanha exportaram esse minério para a Alemanha, no entanto, em 1944 os aliados pressionaram o regime de Franco e de Salazar parar com as exportações, a fim de acabar com a guerra.» 1

A ultima Visão História (nº8, Portugal e a II Guerra Mundial) escreve também algo muito interessante sobre o tema, referindo-se que muito do ouro vindo para Portugal foi "comprado" pelo Santuário de Fátima entre outros pormenores dos quais se cita o seguinte:

«Os negócios entre o Portugal de Salazar e a Alemanha de Hitler ainda escondem mais do que revelam. E a versão oficial da "Comissão Soares" sobre o ouro nazi deixou uma série de pontas soltas. Lentamente, porém, segredos comprometedores vieram à tona...»

Do livro "Portugal e o Plano Marshall" da historiadora Fernanda Rollo também se extrai o seguinte:

Na ponderação das condicionantes que terão contribuído para determinar a atitude de Portugal em dispensar inicialmente auxílio Marshall colocava-se ainda outro problema: a questão do ouro alemão, cuja legitimidade de posse, tal como referia o Ministro das finanças no Parecer datado de 27 de Agosto de 1947, nos era contestada.

Permanecem porém, muitas divergências quanto á quantidade recebida de ouro "sujo" por parte de Portugal.


Bibliografia:

"Portugal e o Plano Marshall", Fernanda Rollo, Editorial Estampa
1. El oro de Canfranc, Ramón J. Campo - Recomendado
Tejiendo el mundo
- Canfranc

14 abril 2010

Duas Guerras, Duas Diplomacias

Primeira Guerra Mundial

João chagas escreveu um dia que o inimigo que Portugal tinha no conflito europeu era a Inglaterra. Nada podia ser mais exacto. Chagas e alguns outros, entre os quais se inclui o Coronel Freire de Andrade, ministro dos Negócios Estrangeiros em 1914, queriam ver a República a combater na frente ocidental, com a França e a Inglaterra. Havia no entanto um obstáculo no caminho da intervenção portuguesa: a própria Inglaterra.

A posição oficial Portuguesa foi a de, estando em paz com todas as potências, estar também pronto a corresponder incondicionalmente aos seus «deveres» para com a Inglaterra. Á primeira leitura desta declaração de amizade - que em França, por exemplo, se interpretou como um acto de hostilidade á Alemanha - , os ingleses ficaram irritados.
A ideia de terem Portugal a combater do seu lado causava-lhes uma repugnância absoluta. A diplomacia Inglesa chegava mesmo a pensar que tinha que suportar as despesas de intervenção Portuguesa vistas as dificuldades da pequena República. Desagradava-lhe ainda ficar limitada com compromissos com Portugal em eventuais negociações de paz.

Churchill aliás achava mesmo que se deveria preferir a aliança de Espanha, e até mesmo facilitar a anexação de Portugal, se fosse essa a condição para ter os Espanhóis do lado Inglês. Mas...

Por detrás do menosprezo estava uma realista avaliação estratégica de Portugal: a única coisa importante para a Inglaterra era que Portugal só tinha valor estratégico para a Alemanha, caso esta pudesse estabelecer uma esquadra no Tejo. Por isso o único interesse que a Inglaterra tinha em relação a Portugal era mante-lo neutral.

No entanto, em Setembro de 1914, o desgaste dos Aliados levou o comando Francês a interessar-se pelo que Portugal pudesse oferecer em Artilharia e Infantaria.

Foi assim que Grey, sem qualquer entusiasmo, convidou o Governo Português, a 10 de Outubro, a juntar-se aos aliados. Em Fevereiro de 1916, Costa conseguiu finalmente amarcar á Inglaterra uma "nota verbal" em que se reestabelecia o convite de 10 de Outubro de 1914. As causas foi a ânsia inglesa de se apoderar dos barcos alemães refugiados em portos Portugueses e o direito de Portugal (ao combater activamente no Conflito) participar na futura Conferência de Paz que regularia a organização da sociedade europeia e mundial no Pós-Guerra.

Segunda Guerra Mundial

Imediatamente após o ataque Alemão á Polónia, um Portugal mais "organizado" e mais "ciente" define a sua politica de Neutralidade numa nota oficiosa a 1 de Setembro de 1939.

Então as diferenças das duas guerras assentavam em:
- Uma declaração «unilateral« de neutralidade, isto é, uma tomada de posição da iniciativa de Lisboa, ainda que com consulta ao Foreign Office, mas não por sugestão deste ou em resposta a um pedido nesse sentido de um Governo sem saber que atitude adoptar, como acontecera com o Ministério de Bernardino Machado, em Agosto de 1914.
- Uma declaração de neutralidade e não de «não beligerência», como também sucedera com o Governo Português na I Guerra. Ou seja um posicionamento de maior distância e autonomia relativamente á Grã-Bretanha. Mas, sobretudo no plano da guerra económica, sobejaria a margem da ambiguidade suficiente para o Governo Português - para desespero do Ministry f Economic Warfare Britânico - entender tal neutralidade de forma geométrica ou mais colaborante, ao sabor das conjunturas do momento, e, sobretudo, dos fabulosos negócios em perspectiva com ambos os campos beligerentes,

As caracteristicas e funções da neutralidade portuguesa, aliadas ao facto de, após a queda da França, em Junho de 1940, Portugal se transformar no porto pacífico de entrada e saída da Europa ocupada e em guerra, e a excepcional valorização estratégica das ilhas atlânticas (especialmente os Açores), conferiram ao Governo de Lisboa um papel e uma proeminência internacionais sem precedentes na história do País.

Em suma ganha-mos muito mais na Segunda que na Primeira e Salazar (inteligente) soube tirar, e muito bem os dividendos políticos internos desse período áureo, tendo a posição evoluído ao sabor das diversas conjunturas e fases da guerra e sob a pressão dos interesses contraditórios dos beligerentes.

Imagens: 1ª - Pintura de Sousa Lopes na Sala da Grande Guerra no Museu Militar
2ª - Cartoon - Portugal vende Volfrâmio á Alemanha

Fontes:
História de Portugal, 6º Volume, A Segunda Fundação, Circulo de Leitores
História de Portugal, 7º Volume, O Estado Novo, Circulo de Leitores
Portugal na Conferência da Paz, Paris 1919, José Medeiros Ferreira


05 janeiro 2010

Os Aliados e Auschwitz

Fotos&Factos

«Fotografias aéreas de Auschwitz, tiradas pelas Forças Aéreas Aliadas durante a Segunda Guerra Mundial foram expostas pela primeira vez em 1978 por Dino Brugioni e Robert Poirier, dois analistas fotográficos, que trabalharam para a CIA.

As Forças Aéreas Aliadas vieram para a área de Auschwitz por causa da importante indústria bélica localizada na região da Alta Silésia (território polaco, que foi anexado ao Terceiro Reich em 1939).
No início de 1944, houve relatos de inteligência de um depósito de combustível gigante e de uma fábrica de borracha artificial em Monowitz. A 4 de abril de 1944, um avião Mosquito do Esquadrão de Reconhecimento da Força Aérea voou para fora de Foggia, base no sul de Itália para fotografar a fábrica. Era a fábrica IG Farben, a apenas escassos 4 km de Birkenau. De modo a assegurar a cobertura completa do alvo, era prática comum iniciar a câmera antes do tempo, e pará-la um pouco depois. Como resultado, o campo de Auschwitz foi fotografado pela primeira vez.


Durante esse mesmo período, os aliados tinham começado a planear um ataque global sobre a indústria de combustíveis alemã, e a fábrica Monowitz estava no topo da lista de alvos. A 31 de Maio, um segundo avião foi enviado para a área. Desta vez, ele levou mais três fotografias de Birkenau a uma altitude de 26.000 pés, contudo analistas fotográficos não identificam o campo.


Por várias razões operacionais, o bombardeio da fábrica de Monowitz foi adiado, mas as forças aéreas aliadas continuaram a reunir informações de inteligência sobre esta fábrica e as outras instalações na área. Um outro avião Mosquito fotografou a fábrica e partes do complexo do campo a 26 de Junho, 25 de Agosto e 8 de Setembro.

Na primeira missão de bombardeio da fábrica de Monowitz a 20 de Agosto, a fábrica foi danificada, mas não foi destruída. A segunda missão de bombardeio foi realizado a 13 de Setembro, e as fotografias tiradas durante o bombardeio de B's-24 incluem uma fotografia que mostra bombas caindo sobre Birkenau. Posteriormente, foram realizadas mais saídas para estimar os danos causados, e o "progresso de reparação" feito pelos alemães.Outros aviões de reconhecimento fotográfico sobrevoaram a área de Auschwitz a 29 de Novembro, 21 de Dezembro e, finalmente, a 14 de Janeiro de 1945 - apenas duas semanas antes da libertação do campo pelo Exército soviético.»


Explicações

O que é que os aliados sabiam? Podiam ter feito alguma coisa antes de 45?
[ Ian Kershaw, professor da Universidade de Sheffield]


«É difícil definir exactamente o que sabiam os soldados aliados. Presume-se que os nomes dos campos da morte, incluindo Auschwitz-Birkenau, não eram familiares para a grande maioria deles. O choque dos soldados do Exército Vermelho no momento da libertação de Auschwitz, ou dos americanos na libertação de Dachau (um campo de concentração e não de extermínio), e dos britânicos quando chegaram a Bergen-Belsen (que também não era um campo de extermínio) foi enorme. Não estavam preparados para o que encontraram. No entanto, os governos aliados sabiam do genocídio desde 1942 e a BBC tinha divulgado notícias sobre experiências com gás no final de 1943. Informações sobre os assassínios sistemáticos em Auschwitz chegaram ao Congresso Judaico Mundial em 1944 e foram transmitidas aos governos aliados. No Verão de 1944 os americanos tiraram fotos aéreas de Auschwitz. Mas estavam mais interessados em bombardear o complexo industrial em Monowitz, nas proximidades, e parecem não se ter apercebido dos locais de extermínio em Birkenau. Há dúvidas sobre se os aviões aliados teriam capacidade para lançar os repetidos ataques de precisão necessários para inutilizar a linha de comboio para Auschwitz. De qualquer forma, eles decidiram que a melhor maneira de acabar com as perseguições aos judeus era acabar com a guerra o mais depressa possível.»



«Se tivesse sido publicada no momento em que foi tirada, às 11 horas do dia 23 de Agosto de 1944, enquanto os judeus húngaros estavam a ser massacrados lá em baixo, esta foto tridimensional – agora trazida à tona por uma máquina do tempo – poderia ter salvado centenas de milhares de vítimas", notou o jornal britânico The Guardian.
A foto foi tirada pelo piloto de um avião de reconhecimento da Força Aérea Britânica que sobrevoou a Polónia numa fase em que os alemães, sabendo que estavam com os dias contados, intensificaram o ritmo do extermínio em Auschwitz. Os detalhes são tão claros, que uma foto até mostra mesmo prisioneiros enfileirando-se para uma inspecção no campo de concentração.


O historiador alemão Hans-Ulrich Wehler, professor da Universidade de Harvard citado na edição de segunda-feira do diário popular alemão Bild, indica que Londres ficou a saber dos campos de concentração nazis o mais tardar em 1943. Do site do Memorial do Holocausto nos EUA, que praticamente representa a posição histórica oficial norte-americana, consta que "em 1943, o espião polaco Jan Karski alertou o presidente Franklin Roosevelt sobre notícias de extermínio em massa recebidas por lideres judaicos directamente do gueto de Varsóvia. O aviso não deu seguimento a nenhuma decisão executiva no imediato."

No Outono de 1944, segundo aponta o museu, os Aliados sabiam do extermínio de Auschwitz.O coordenador do arquivo, Allan Williams, justificou que os espiões tiravam as fotos em sequências rapidíssimas, como uma metralhadora, sendo portanto possível que os documentos nunca tenham recebido a atenção merecida. "É fascinante pensar por que quem tirou as fotos não sabia o que estava a acontecer", acrescentou Williams, conjecturando: "Acho que, como tinham ordens de observar estritamente dados militares, provavelmente nem tinham tempo de pensar no que estava a acontecer".»


Bibliografia:


Fotos: aéreas de Auschwitz por ordem cronológica (31 de Maio, 26 Junho, 25 Agosto, 13 Setembro e 12 de Dezembro, 1944) - Museu Yad Vashem

Público - Dossier Auschwitz - Entrevista com Ian Kershaw -"Sem a visão apocalíptica de Hitler a 'solução final' é impensável", Por Alexandra Prado Coelho, 03.02.2005

Deutsche Welle

Museu Yad Vashem


03 janeiro 2010

O Album de Auschwitz


O Álbum de Auschwitz é a única prova visual do processo de extermínio em massa dos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau. É um documento único e foi doado ao Museu Yad Vashem (Autoridade de Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto) por Lilly Jacob-Zelmanovic Meier (sobrevivente a Auschwitz) .

As fotos foram tiradas no final de Maio ou inícios de Junho de 1944, por Ernst Hofmann, ou por Bernhard Walter, dois homens das SS, cuja tarefa era tirar fotos de identificação e impressões digitais dos detidos para os trabalhos forçados (e não dos judeus que eram enviados directamente para as câmaras de gás).

As fotos mostram a chegada de judeus húngaros. Muitos deles vieram do Gueto Berehovo, que em si, foi um ponto de recolha para os judeus de várias outras pequenas cidades. No início do verão de 1944 deu-se em grande escala a deportação de judeus húngaros. Para esse efeito, uma linha ferroviária especial foi criada a partir da estação de Caminhos-de-Ferro fora do campo para uma rampa dentro de Auschwitz. Muitas das fotos do álbum foram tiradas nessa respectiva rampa. Ai os judeus passaram por um processo de selecção, realizado por médicos das SS e por guardas. Aqueles considerados aptos para o trabalho foram enviados para o campo, onde foram registrados, despojados de bens pessoais e distribuídos pelas casernas. O resto foram enviados para as câmaras de gás. Foram então gaseados num inofensivo banho, tendo os seus corpos sido cremados e as cinzas espalhadas num pântano próximo.

As fotos do álbum mostram todo o processo, excepto o assassínio em si.

O objectivo do álbum é obscuro. Não se destinava a fins de propaganda, nem tem qualquer utilidade óbvia pessoal. Presume-se que foi elaborado como uma referência oficial de uma autoridade superior, assim como os álbuns de fotos de outros campos de concentração.
O álbum foi importante nos julgamentos de Auschwitz em Frankfurt, durante a década de 1960. Em 1980 foi doado ao Museu Yad Vashem, sendo restaurado em 1994.

Existem 56 páginas e 193 fotos no álbum. Algumas das imagens originais, presumivelmente aquelas dadas aos sobreviventes que tinham familiares identificados nas fotografias, estão em falta. Uma dessas fotos foi recentemente doada ao Museu Yad Vashem.



Bibliografia:



15 dezembro 2009

Açores na Segunda Guerra Mundial

foto: primórdios da base das lajes, 1944

Durante a Segunda Guerra Mundial, Salazar através de longas negociações, cedeu as bases dos Açores aos Britânicos. Isto representou uma mudança na sua política externa e na sua própria linha de pensamento.

Anteriormente, o Governo Português havia permitido aos U-Boat's e á marinha alemã reabastecimentos na ilha. Este foi um momento decisivo na Batalha do Atlântico, permitindo aos Aliados maior controlo aéreo do Atlântico. Isso ajudou-os imenso na protecção dos seus comboios, e na caça aos submarinos alemães.

Em 1944, as forças americanas construíram uma pequena base aérea na ilha de Santa Maria. Em 1945, uma nova base foi fundada na ilha Terceira, actualmente é conhecida como Base Aérea das Lajes.

Alemanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos tinham todos planos para estabelecer uma base nos Açores.


foto:WALRUS descolando, para uma missão de patrulha apartir da nova base nos Açores

Lajes

Com o avanço de Hitler o Governo Português viu na neutralidade a sua melhor linha de defesa contra a Alemanha. No entanto, em 1941, Portugal reconheceu os perigos dos Açores caírem nas mãos dos alemães, ampliando assim a pista e enviando tropas e equipamentos adicionais para as Lajes, incluindo aviões Gladiator. Declara-se então que a base será capaz de uma defesa aérea em 11 de Julho de 1941.

No início da guerra, as Potências Aliadas do Reino Unido e dos Estados Unidos reconheceram o potencial de operar a partir dos Açores. Com o caos dos ataques dos U-Boats aos transportes transatlânticos, o Reino Unido reconheceu a necessidade de realizar operações nos Açores. Com a entrada dos E.U. A. na guerra, estes procuravam o meio mais rápido de transportar homens e material para a África do Norte e Europa. Os Açores ofereceram essa oportunidade. No entanto, o governo Português manteve-se neutro.

Sob um acordo assinado em 17 de Agosto de 1943, António de Oliveira Salazar, presidente do Conselho de Ministros Português, aceitou o pedido britânico de direitos de basear "em nome da aliança que já existia há mais de 600 anos entre Portugal e o Reino Unido. " Aos britânicos foram dadas a utilização dos portos açorianos da Horta, na ilha do Faial, e Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, e nos aeródromos do Campo Lajes na ilha Terceira e Campo de Santana na Ilha de São Miguel.

A 8 de Outubro de 1943, os ingleses desembarcaram em Angra e descarregaram ai equipamentos e material, transportado-os sobre uma estrada estreita numa distância aproximada de 11 quilómetros para a que viria a ser conhecida como Base Aérea das Lajes. Desenvolveram então uma serie de estruturas para que permitisse que aviões pesados aterrassem.

Após duas semanas do desembarque, bombardeiros britânicos (Hudsons, Lancasters,Yorks, e Wellingtons) começaram a operar apartir dos Açores num raio de 500 milhas na caça dos submarinos alemães.

O primeiro U-Boat foi abatido (através dos Açores) a 9 de Novembro de 1943 apenas um mês depois de as forças britânicas chegaram á Base das Lajes. As contribuições dos Açores e dos três esquadrões anti-submarino britânico nas Lajes foi um dos pontos de viragem na Batalha do Atlântico em 1943.

Em 1942, 5.480.000 toneladas de diversas mercadorias tinham sido perdidas no Atlântico Norte. No último trimestre de 1943 com as operações britânicas apartir das Lajes, apenas 146.000 toneladas se perderam. Através dos Açores foram afundados 53 submarinos entre outros que bateram em retirada para longe dos Comboios Aliados. A Batalha do Atlântico estava praticamente concluída.

Operação Lifebelt (cinto de segurança)

Visava a ocupação dos Açores a curto prazo. Sob a liderança britânica, forças conjuntas Inglesas e Americanas iriam tomar as ilhas. Nesta fase, Churchill já perdeu a paciência com Salazar, e embora dê sempre primazia aos meios diplomáticos, o chefe de Estado inglês comunica ao seu gabinete de guerra que pessoalmente, estou preparado, se os E. U. se juntarem a nós (...) não só para abordar os portugueses, mas também para fazer-lhes saber, se eles nos criarem dificuldades, que nós tencionamos apoderar-nos dessas ilhas (...) e esperamos que isso possa ser feito sem derramamento de sangue. Seria mais fácil para eles renderem-se, sob protesto, (...) mesmo indo tão longe como cortarem relações diplomáticas connosco, do que serem coniventes ou admitirem abertamente uma tal violação da sua neutralidade.

Apesar de se estar bem ciente da importância estratégica das ilhas dos Açores, localizadas quase no meio do Atlântico, há ainda muitas historias por contar e descobrir sobre o seu importante papel na Segunda Guerra Mundial.


Bibliografia:
Base das Lajes
Segunda Grande Guerra, A Questão dos Açores
History of Azores During World War II
Operation Alacrity
The 801 st Engineer Aviation Battalion
World Naval Ships Forums

02 dezembro 2009

Bent Faurschou-Hviid



7 de Janeiro 1921 – 18 de Outubro 1944

Bent Faurschou-Hviid foi membro do grupo de resistência dinamarquês Holger Danske durante a II Guerra Mundial. Os seus cabelos vermelhos rapidamente lhe deram o apelido de "A Chama".

Faurschou-Hviid foi um dos assassinos mais activos do movimento de resistência dinamarquês durante a II Guerra Mundial, e de acordo com vários dos seus colegas da "Holger Danske", nenhum outro membro da resistência era tão odiado e procurado pelos alemães como Faurschou-Hviid. De acordo com Gunnar Dyrberg no documentário dinamarquês "Licença para Matar", ninguém sabe exactamente quantas mortes "A Chama" executou, mas rumores indicam para mais de 22.


"A Chama" regularmente tinha como parceiro "O limão", cujo nome verdadeiro era Jørgen Haagen Schmith. Em dinamarquês, "o limão" diz-se "Citronen". Schmith tinha esse apelido porque trabalhou para o fabricante francês de automóveis Citroën. Juntos, "A Chama" e "Limão", formaram provavelmente a mais famosa dupla de resistência na Dinamarca durante a II Guerra Mundial.


Em 18 de Outubro de 1944, Faurschou-Hviid estava a jantar com sua senhoria e alguns convidados, quando de repente, houve uma batida na porta e um oficial alemão exigiu a entrada. Faurschou-Hviid, que estava desarmado, naquela noite, subiu rapidamente procurando uma saída através do telhado, mas logo percebeu que a casa estava completamente cercada. Sem chance de escapar, ingeriu uma cápsula de cianeto e morreu passados alguns segundos..


"A Chama" e o seu parceiro "O Limão" tornaram-se ainda mais famosos quando o filme Flammen & Citronen veio retratar as suas vidas de resistentes.


25 outubro 2009

Invasão de Espanha a Portugal - SGM

«Em 1940, o Alto Estado-Maior espanhol elaborou, a pedido de Franco, um plano de ataque a Portugal, com a ocupação de Lisboa e a tomada de toda a costa nacional. O documento foi descoberto pelo historiador espanhol Manuel Ros Agudo(...)


O plano não permitia qualquer falha. Tudo começaria com um ultimato (impossível de cumprir) e um prazo limite de 24 horas ou 48 horas, findas as quais teria início a invasão de Portugal.

A operação incluía intervenções por terra, ar e mar e as primeiras incursões terrestres, realizadas por um contingente de 250 mil combatentes espanhóis, avançariam em direcção a Ciudad-Rodrigo, Guarda, Celorico da Beira, Coimbra, Lisboa, Elvas, Évora e Setúbal - a ocupação da capital e a divisão do país em três parcelas constituíam os passos fundamentais para a conquista de Portugal. Ao longo de quase 70 anos, o Plano de Campanha nº 1 (34), o grande projecto de Franco para invadir Portugal, delineado em plena II Guerra Mundial (1940), esteve "adormecido" nos arquivos da Fundação Francisco Franco. Os rumores da tentação franquista de conquistar Portugal há muito que circulam no meio historiográfico - até porque uma das grandes orientações da política externa de António de Oliveira Salazar, durante o conflito mundial, consistia na independência nacional face à ameaça da anexação espanhola. Mas só recentemente foi possível confirmar que os temores de Salazar tinham justificação.

Em 2005, o historiador espanhol Manuel Ros Agudo foi o primeiro investigador a aceder às cem páginas que compõem o plano de ataque contra Portugal, elaborado pela 1ª secção do Alto Estado-Maior (AEM) espanhol no segundo semestre de 1940. O ineditismo da descoberta levou o investigador, de 47 anos, a dedicar-lhe um capítulo na sua obra A Grande Tentação - Franco, o Império Colonial e o projecto de intervenção espanhola na Segunda Guerra Mundial, recém-editada em Portugal pela Casa das Letras. Na próxima terça-feira, Ros Agudo é um dos oradores da conferênciaA Península Ibérica na II Guerra Mundial - Os planos de invasão e defesa de Portugal, a realizar no Instituto de Defesa Nacional, a partir das 14h30, numa iniciativa conjunta com o Instituto de História Contemporânea.


Devastador e célere

O projecto de invadir Portugal não configurava uma "acção isolada", como se pode ler numa das alíneas dos documentos analisados por Ros Agudo. Tratava-se de uma operação preventiva, no âmbito da ambição franquista de declarar guerra à Inglaterra. Numa altura em que França já caíra sob o domínio da Alemanha nazi, Espanha, então com o estatuto de país não-beligerante, acalentava o sonho de um império norte-africano. Nem Hitler nem Mussolini podiam, em 1940, garantir a Franco a concretização deste desejo. Mas isso não fez esmorecer as ideias expansionistas e bélicas do "Caudilho".

A guerra contra a Inglaterra teria início com a tomada de Gibraltar. Porém, os estrategas do AEM prenunciavam que a primeira resposta britânica a este ataque fosse "um desembarque em Portugal com a ideia de montar uma cabeça-de-ponte para a invasão da península". Por isso, no plano ofensivo, determinava-se o emprego dos "meios necessários para bater o Exército português e o seu Aliado; ocupação do país e defesa das suas costas".

Tudo isto seria realizado sem o conhecimento prévio de Hitler e Mussolini. Porque Franco "queria manter o carácter secreto das operações, ter liberdade de manobra e também por questões de orgulho", explicou Ros Agudo ao P2. Contudo, após iniciados os ataques a Gibraltar e a Portugal, Espanha previa o apoio da aviação alemã, "nomeadamente com o reforço de bombardeiros e caças". A participação da aviação espanhola estava também definida no plano de ataque (com as missões de "destruir a aviação inimiga e as suas bases" e de "atacar os núcleos de comunicação, especialmente nas direcções da invasão, e os transportes de tropas"). Mas Espanha receava que o vasto contingente de homens em terra se confrontasse com a superioridade luso-britânica no ar. Neste âmbito, o reforço alemão seria indispensável. Assim como se afigurava prioritário um ataque terrestre devastador e célere.

Para a Marinha, o AEM planeara um conjunto de acções de defesa ("exercer acções com os submarinos sobre as comunicações inimigas", "proteger as comunicações com o Protectorado de Marrocos e Baleares"; "efectuar acções de minagem nos próprios portos") que pressupunham uma reacção rápida da Marinha britânica.


E Salazar?

Em Dezembro de 1940, quando Franco escreveu, assessorado pelo AEM, que decidira atacar Portugal - "Decidi [...] preparar a invasão de Portugal, com o objectivo de ocupar Lisboa e o resto da costa portuguesa" -, o Tratado de Amizade e Não Agressão, firmado pelos dois países em Março de 1939, não passava de um documento sem importância para o "Caudilho". Mas foi a partir desse acordo que os franquistas intensificaram as pressões diplomáticas para Portugal deixar de respeitar os compromissos da aliança luso-britânica: fizeram-no através de Nicolau Franco, irmão do ditador espanhol e embaixador em Lisboa; e também "aconselharam" o então embaixador português em Madrid, Pedro Teotónio Pereira.

Perante os planos de anexação, Espanha não desprezava apenas o pacto de não agressão, mas também a intervenção activa e material do Governo de Salazar no apoio aos franquistas durante a Guerra Civil de Espanha - três a cinco mil "viriatos" combateram nas fileiras das milícias da Falange, do Exército e da Legião espanhola, muitos deles recrutados através de anúncios nos jornais pagos pelo Estado; a rádio emitia propaganda franquista; e Salazar promoveu a mobilização anticomunista (recolhendo benefícios para a sustentação do Estado Novo).

Atentando no rigor e na determinação plasmadas no Plano de Campanha nº 1 (34), urge questionar qual o destino que reservava Franco para o ditador português, na eventualidade de a ocupação ter avançado.

A documentação descoberta por Ros Agudo cinge-se aos aspectos puramente militares e não contempla a "sorte pessoal" do presidente do Conselho. Mas o historiador, professor de História Contemporânea na Universidade San Pablo, em Madrid, avançou ao P2 duas hipóteses: "O destino de Salazar e do seu Governo, no caso de Portugal não conseguir resistir à invasão, seria estabelecerem-se nas colónias (Angola ou Moçambique); ou podiam exilar o Governo em Londres, como aconteceu com alguns países europeus ocupados pelo Eixo".


Palavras encomendadas

Quanto ao futuro de Portugal, não há qualquer referência nos documentos, ficando sem resposta a pergunta sobre se a ocupação seria ou não temporária. No entanto, Ros Agudo cita no seu livro as "inquietantes" palavras de Serrano Suñer, ministro dos Assuntos Exteriores espanhol, ao seu homólogo alemão, Joachim von Ribbentrop, datadas de Setembro de 1940: "(...) ninguém pode deixar de se dar conta, ao olhar para o mapa da Europa, que, geograficamente falando, Portugal na realidade não tinha o direito de existir. Tinha apenas uma justificação moral e política para a sua independência pelo facto dos seus quase 800 anos de existência".

Ros Agudo acredita que estas palavras, proferidas em Berlim, foram "encomendadas" a Suñer por Franco, com a intenção de averiguar "a reacção de Hitler perante a ideia de um Portugal integrado num futuro grande Estado ibérico". Mas "oFührer não quis fazer qualquer compromisso sobre este assunto", nota o historiador.

Apesar das declarações de Serrano Suñer, Manuel Ros Agudo não crê que Franco pretendesse "uma integração pura e dura num Estado ibérico" Porque isso arrastaria "muitos problemas". "É possível que, sob uma Nova Ordem europeia, na eventualidade da vitória fascista e da derrota da Grã-Bretanha, Franco tivesse permitido a existência de um Portugal marioneta, fascista e inofensivo", diz. E, continuando num exercício de História virtual, acrescenta: "Se a Rússia tivesse sido eliminada por Hitler, o grande confronto, ou a Guerra Fria dos anos 50 e décadas porteriores, teria acontecido entre os EUA, por um lado, o grande bloco euro-africano fascista, pelo outro, assumindo este último um papel semelhante ao bloco soviético que conhecemos. Tanto Espanha como Portugal teria feito parte desse bloco constituído pelas potências do Eixo".

Nos últimos meses de 1940, o Plano de Campanha nº 1 (34) esteve prestes a ser realizado. Franco ordenara a prontidão militar para o ataque. Mas o que lhe sobrava em meios operacionais faltava-lhe em condições políticas, nomeadamente a garantia dos apoios alemão e italiano e a concretização das ideias imperialistas. "Os requisitos políticos para dar esse passo - as garantias de obtenção de um império em África - acabaram por não ser dados", explica Ros Agudo.

O plano foi então depositado em arquivo e tornado inacessível durante quase sete décadas.»


Em: Público,P2 - 23/10/09, por Maria José Oliveira


18 outubro 2009

Neutralidade na II Guerra Mundial

Nota do Governo ao País

"Apesar dos incansáveis esforços de eminentes chefes de governo e da intervenção directa dos chefes de muitas nações, eis que a paz não pôde ser mantida e a Europa mergulhada, de novo, em dolorosa catástrofe. Embora se trate de teatro de guerra longínquo, o facto de irem defrontar-se na luta algumas das maiores nações do nosso continente - nações amigas e uma delas aliada - é suficiente para o grande relevo do acontecimento e para que dele se esperem as mais graves consequências: não só se lhe pode ficar estranho pelo sentir, como há-de ser impossível evitar as mais duras repercussões na vida de todos os povos.

Felizmente, os deveres da nossa aliança com a Inglaterra, que não queremos eximirmos a confirmar em momento tão grave, não nos obrigam a abandonar nesta emergência a situação de neutralidade.

O governo considerará como o mais alto ou a maior graça da Providência poder manter a paz para o povo português, e espera que nem os interesses do país, nem a sua dignidade, nem as suas obrigações lhe imponham comprometê-la.
Mas a paz não poderá ser para ninguém desinteresse ou descuidada indiferença. Não está no poder de homem algum subtrair-se e à Nação ás dolorosas consequências de guerra duradoura e extensa. Tendo a consciência de que aumentaram muito os seus trabalhos e responsabilidades, o Governo espera que a Nação com ele colabore na resolução das maiores dificuldades e aceite da melhor forma os sacrifícios que se tornarem necessários e se procurará distribuir com equidade possível.

A todos se impõe viver a sua vida, mas agora com mais calma, trabalho sério, a maior disciplina e união; nem recriminações estéreis nem vãs lamentações, porque em muito ou pouco fique prejudicada a obra de renascimento a que metemos ombros. Diante de tão grandes males, faz-se mister ânimo forte para enfrentar as dificuldades: e da prova que ora derem, sairá ainda maior a Nação."

Em: Jornal de Notícias, 2 de Setembro de 1939

15 outubro 2009

Agostinho Lourenço


Agostinho Lourenço da Conceição Pereira nasceu a 5 de Setembro de 1886 na freguesia de S. Mamede, em Lisboa. Alistou-se como voluntário na Companhia de Equipagens, sendo incorporado em 24 de Junho de 1906. Em 1912 é promovido a Alferes.
Oficial de Infantaria, foi promovido a capitão após a I Guerra e colocado no Estado-Maior do Exército (Carreira de Tiro de Lisboa (Pedrouços)). Com a Ditadura Militar, abandona a sua carreira nas forças armadas e ingressa na PSP onde é nomeado Comissário da 3ª Divisão da PSP de Lisboa. Exonerado a seu pedido de Comandante de Divisão da PSP de Lisboa, em 1931, torna-se director da Polícia Internacional e, dois anos depois, da PVDE. Durante a II Guerra, garante uma imagem de neutralidade (ainda que por vezes lhe sejam imputadas simpatias anglófilas). Após a extinção da PVDE, continua a assegurar a direcção do organismo que a substituiu - a PIDE -, cargo que manteve até finais dos anos 50. Esteve, assim, à frente dos destinos das polícias políticas do Estado Novo - Polícia Internacional, PVDE e PIDE - durante mais de vinte anos.

De um relatório dos serviços de espionagem ingleses de 16 de Julho de 1941 sobre alguns responsáveis da PVDE extrai-se o seguinte sobre Agostinho Lourenço:

O Capitão Lourenço dirige-se sempre aos seus subalternos como Director. É uma pessoa particularmente activa e disciplinadora. As decisões importantes não são tomadas pelo staff sem obterem a sua aprovação e consentimento. Chefia os serviços com mão de ferro. O Capitão Lourenço é amigo pessoal do Presidente do Conselho. Quando Salazar chegou ao poder, pediu a Lourenço para chefiar a PVDE. Ele concordou, na condição de poder actuar sem interferências de qualquer espécie, Salazar acedeu. (...) Creio que Lourenço é um homem sem preconceitos, indiferente a rumores. É uma pessoa de princípios (...) 1

No entanto, os serviços secretos suspeitam que Agostinho Lourenço tenha sido comprado pelo serviço de informação alemão, provavelmente terá recebido mil contos (meio milhão de euros, hoje). Agostinho Lourenço acredita na invencibilidade dos alemães e possui aquilo que considera mais importante: poder e autoridade.
Os Britânicos equacionam também a "compra" do director, mas chegam á conclusão que a «aquisição» é improvável. Acreditam que a melhor opção é subornar os colaboradores de Lourenço. 2

De outro relatório dos serviços britânicos, passado algum tempo do primeiro, com acusações particularmente graves:

A deterioração do estado físico de LOURENÇO é tal que Portugal já não lhe interessa. Apenas se preocupa com as costuras dos seus bolsos sujos. Os alemães sabem pertinentemente que o homem é doente e tratam-no agora como um criado e não como um colaborador. Cada vez mais a sua actividade é contrabando (...) Vendeu toneladas de alimentos á Alemanha. Os alemães enganam-no ás claras, e ao menor sinal de resistência a alguns dos seus pedidos maís incríveis, ameaçam contar tudo. É um esquema que resulta sempre porque é a coisa que ele mais teme. Lucrou bastante com o negócio do volfrâmio. Conseguiu comprar volfrâmio ao preço legal e vendeu-o ao ministro romeno Cadere pelo dobro. Cadere cobrou ainda mais ao governo romeno. Toda a gente sabe que ele também está metido no caso KRAIS. Sacou o seu antes de KRAIS ser descoberto (Friederich KRAIS confessou que um agente alemão transportou para Portugal acções, obrigações e dinheiro que supostamente pertenciam a Hermann Goering e que os alemães transferiram quantidades importantes de ouro e demais valores para o Banco de Portugal). Os britânicos sabem do que é capaz e quanto mais se enterrar no lodaçal pior vai ser para ele. O novo embaixador vai entregar pessoalmente a Salazar um dossier sobre as suas actividades. O dossier prova que ele é pior do que um vigarista - é um traidor. 3

Salazar não demite o responsável da PVDE. No final da guerra, o Capitão Agostinho Lourenço é nomeado pelo Presidente do Conselho director da recente-criada PIDE. Só resta saber, portanto, se o dossier comprometedor foi entregue a Salazar...

Agostinho Lourenço morre em 1964.

___________
1 , 2 e 3 : O Diário Secreto que Salazar não Leu, Rui Araújo, Oficina do Livro

Bibliografia:
Serviço de Informações de Segurança (SIS)
O Diário Secreto que Salazar não Leu, Rui Araújo, Oficina do Livro
Sábado

14 outubro 2009

Vôo 777 - A ( Lisboa - Whitchurch )



O Douglas DC-3 Ibis da BOAC, Lisboa - Grã-Bretanha é abatido por caças da Luftwaffe na manhã de terça-feira, 1 de Junho, quando sobrevoa o Golfo da Biscaia. O incidente é amplamente noticiado na Europa e nos Estados Unidos, sobretudo pela presença entre as vítimas da estrela de cinema de Hollywood, Leslie Howard, e as circunstâncias misteriosas que o rodeiam. As agências noticiosas internacionais emitem despachos no dia 2.» Jornais portugueses também relatam os factos tendo o Século publicado 8 notícias, incluindo honras de primeira página.

Em 1939, Leslie Howard interpreta o papel mais importante da sua carreira: o do gentleman Ashley Wilkes, em Tudo o Vento Levou. O filme é um sucesso, mas o actor (judeu) inglês instala-se em Londres e começa a participar nas operações de propaganda antinazi, designadamente como realizador de cinema. O Diário da Manhã (afecto ao regime) é, no dia 3, um dos primeiros jornais portugueses a noticiar a tragédia.

Reproduzem-se as interrogações da imprensa londrina sobre o desastre:
As carreiras aéreas entre a Inglaterra e Portugal gozaram de imunidade até ao dia em que um avião desse serviço é atacado pelo inimigo. Qual é pois a razão deste ataque?» - pergunta Ward Price, jornalista britânico muito conhecido pelas suas viagens aos diversos países da Europa, antes da guerra. É de presumir - diz ele - que os alemães se esforçassem especialmente por interceptar determinado avião.»

António Leite Faria, primeiro secretário da embaixada de Portugal em Londres nessa altura, contou ao escritor Fernando Dacosta que o ataque podia resumir-se a uma tentativa para assassinar Winston Churchill.

Parece que os serviços secretos alemães viram um senhor muito gordo embarcar na Portela e pensaram que podia ser o Churchill. Lisboa era na altura, dada a ocupação da França, um ponto de passagem obrigatório para a Inglaterra, para a América, para o Norte de África, para o Médio Oriente.

O "senhor muito gordo" que fumava charuto e embarcou nessa manhã na Portela de Sacavém é Alfred Chenhalls, amigo e contabilista de Leslie Howard. Uns anos mais tarde, o próprio primeiro-ministro britânico menciona este boato no IV volume das suas memórias de guerra:
A brutalidade dos alemães só era comparável á estupidez dos seus agentes. É difícil imaginar que com todos os recursos da Grã-Bretanha ao meu dispor, eu fosse marcar passagem num avião comercial sem escolta para regressar a Londres á luz do dia.

De repente, surgiu a voz do piloto holandês no rádio: «Estou a ser seguido por aeronaves estranhas. Estou a aumentar a velocidade...Estamos a ser atacados. Tiros de canhão e tracejantes estão a penetrar na fuselagem. Tenho esperança e faço o melhor que posso». A partir dai, o silêncio».

No dia seguinte, Berlim emitia um comunicado em que reivindicava ter abatido um aparelho inimigo que sobrevoava a Atlântico. Londres anunciava que o Douglas com quatro tripulantes e 13 passageiros, incluindo o actor Leslie Howard, estava atrasado e presuvilmente perdido. Pela primeira vez, um aparelho comercial sem armamento, que efectuava a carreira Lisboa - Londres desde 1940, foi abatido. Qual a razão?
O Douglas tinha deslocado da Portela, um aeroporto utilizado por aviões dos Aliados e do Eixo. A carreira da tarde de Londres servia para transportar jornais ingleses para a Legação Alemã. E permitia obter (através da Suíça) informações sobre os prisioneiros de guerra. Os aviões que passavam pela Portela beneficiavam de um estatuto implícito de imunidade.
Os ingleses consideram a violação do salvo-conduto um incidente integrado na caça a Winston Churchill, que viajava para Inglaterra, em proveniência da América do Norte e do Norte de África.

Segundo o perito de aeronáutica Chris Goss, o Douglas não foi atacado intencionalmente porquanto os pilotos dos oito Junkers Ju 88 do Grupo V Kampfgeschwader 40, que deslocaram de Bordéus nessa manhã, desconheciam a presença de aviões civis na zona que patrulhavam, Há pelos menos, três teorias para explicar o ataque da aeronave da BOAC:

1 - Confusão entre Winston Churchill e o passageiro Alfred Chenhalls.
2 - Confusão entre Leslie Howard e o guarda-costas de Churchill, Walter H. Thompson.
3 - Erro da Luftwaf.

Viajavam também no avião com destino a Londres o Sr. Stonehouse, redactor chefe da Reuter em Washington e o gerente da Shell em Portugal, Sr Sheringtow além de várias senhoras e crianças.
O ataque do Douglas da BOAC é considerado pelo governo de Londres um «crime de guerra» e a morte de Howard é sentida como uma tragédia nacional.
Não houve mais aviões comerciais (da carreira de Lisboa) abatidos durante a guerra.

Em: O Diário Secreto que Salazar não Leu, Rui Araújo, Oficina do Livro

17 setembro 2009

Portugal - Segunda Guerra Mundial III

Salazar interferiu nas emissões da BBC para Portugal

«As notícias sobre a resistência russa não chegavam, a palavra democracia era proibida e um jornalista chegou a ser afastado, situações que provam que Salazar interferiu na linha editorial das emissões para Portugal da BBC, segundo uma tese de doutoramento.

"O Estado Novo e, portanto, Salazar pessoalmente, tentou, e conseguiu em alguns casos, interferir na linha editorial da BBC de várias formas", sustenta Nelson Ribeiro, Director de Programação da Rádio Renascença, professor universitário e autor da tese "Radio Broadcasting in Portugal during World War II".

Para o sustentar, Nelson Ribeiro apresenta vários "episódios" na tese que concluiu recentemente na Universidade de Lincoln (Reino Unido) e sobre a qual falou à Lusa.

O caso "mais emblemático" ocorre em 1941, com o despedimento de Armando Cortesão, exilado em Londres e ao serviço da secção portuguesa da BBC. Salazar insurge-se contra a hipótese de aquele vir a chefiar a secção e ordena à censura portuguesa que corte "todas as notícias" da estação, "o que coloca a propaganda britânica em Portugal quase ao nível zero".

"As outras influências eram um pouco mais subtis", compara o autor, nomeando que houve "pressões diplomáticas" para não se "falar sobre o papel da União Soviética na Guerra". Também a democracia era "assunto tabu nas emissões da BBC para Portugal até 1944".

Outro estragema foi usado quando do surto grevista de 1944 em Portugal: a BBC noticiou-o, mas citando o Diário da Manhã, jornal oficioso do regime, que desvalorizava o protesto. Há uma "preocupação não de esconder a informação mas de a transmitir de forma a que as relações com o Estado Novo não fossem postas em causa", avalia.

Mas que interesse tinham os ingleses nisso? Era "muito importante para os aliados que Portugal se mantivesse neutro", destaca Nelson Ribeiro. Londres tinha, por isso, "muito interesse em conseguir fazer a sua propaganda em Portugal e Salazar sabia disso".

"Mesmo nos momentos mais delicados [como o das exportações de volfrâmio para a Alemanha], a BBC nunca atacou directamente" a ditadura portuguesa, mantendo um "clima de simpatia" com o Estado Novo, que se traduziu até em "elogios do trabalho que era feito por Salazar".

Tal situação chegou a motivar "cartas de ouvintes portugueses a protestarem", pois "davam-se ao trabalho" de comparar as emissões em português, iniciadas em Junho de 1939, com as outras emissões estrangeiras.

Salazar "também tratava relativamente bem a BBC", defende o autor. Durante os primeiros seis meses de emissão, "a Emissora Nacional retransmitia, nas suas próprias emissões, a posteriori, o noticiário da secção portuguesa".

"A rádio portuguesa tinha pouca informação, muito atrasada e muito censurada" e "a ideia que as pessoas têm sobre as emissões para Portugal da BBC é de que eram totalmente credíveis, objectivas e independentes", salienta.

Claro que Nelson Ribeiro não concluiu "exactamente o oposto". "De todas as fontes de informação que existiam em Portugal durante a Guerra, não há dúvida nenhuma de que a BBC era a que transmitia informação mais objectiva. Mas não é verdade que não tivesse que assumir uma série de compromissos de forma a estar alinhada com a política do Foreign Office [diplomacia britânica] e esta era, antes de mais, não afrontar o Estado Novo", sustenta.»

Fonte: Diário de Noticias


16 setembro 2009

Portugal - Segunda Guerra Mundial II

Lisboa esteve no centro da espionagem


«Não é segredo que Lisboa esteve no centro da espionagem durante a Segunda Guerra Mundial, mas os agentes secretos ingleses, alemães, italianos, japoneses e norte-americanos agiam igualmente fora do continente e nos territórios lusófonos.

A historiadora Irene Pimentel, num artigo intitulado Lisboa, capital europeia da espionagem, refere que o seu colega norte-americano Douglas Wheeler descreveu Portugal durante a guerra como spyland (país de espiões).

O autor de livros sobre espionagem Nigel West, pseudónimo do historiador britânico e antigo deputado Rupert Allason, escreve que «Lisboa foi um dos grandes centros de espionagem da Segunda Grande Guerra».

E explica: «a sua localização geográfica (o facto de não estar cercada por terra como as capitais neutrais de Madrid ou Berna) fez dela uma encruzilhada dos caminhos internacionais».

Num prefácio ao livro O diário secreto que Salazar não leu, do jornalista Rui Araújo, Nigel West descreve a «atmosfera de intriga» na capital portuguesa, como «os profissionais de informações de diversos países conspiravam para se prejudicarem mutuamente, semeando falsas informações, recrutando desertores, buscando fontes e mobilizando agentes duplos».

Rui Araújo, a escrever um segundo livro sobre o tema da espionagem em território português durante a Segunda Guerra Mundial, disse à agência Lusa que Lisboa era local «de contactos, negociatas, raptos, mas também 'manobras de desinformação'» e, neste caso, era importante o papel da portuguesa Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE, antecessora da PIDE).

O jornalista afirmou que «pessoas influentes da PVDE chegaram a ser alvo de 'operações de manipulação' por parte dos serviços norte-americanos (os antecessores da CIA)».

«Os serviços secretos japoneses estavam igualmente em Portugal e eram muito activos, tinham uma relação privilegiada com o capitão Agostinho Lourenço (director da PVDE na época da Segunda Guerra e primeiro director da PIDE), que também terá recebido dinheiro dos serviços secretos alemães», adiantou.

Segundo Rui Araújo, «no final da Segunda Guerra, Aliados e Eixo tinham agentes em todos os territórios portugueses, com excepção da Guiné e Goa».

«O simples número de agências que actuavam em Lisboa vale como um indicador da importância da cidade para os serviços de informações britânicos», indica Nigel West, que fala dos serviços secretos de informações, de fugas e evasões, de operações especiais e de contra-espionagem.

Nigel West considera também que «a dimensão da espionagem nazi desenvolvida em Lisboa não tinha comparação com a de qualquer outra capital neutral e só talvez Madrid se lhe pudesse aproximar».

Irene Pimentel refere «o opositor anti-nazi alemão Berthold Salomon Jacob, raptado pela Gestapo na baixa lisboeta, no Verão ou Outono de 1941», bem como «o rapto (em Lisboa, em 1944) e o envio para a Alemanha do oficial alemão da Abwehr (serviço secreto do Alto Comando Militar Alemão), Johann Jebsen, que terá colaborado com uma rede de agentes duplos jugoslavos (…), desde o Verão de 1943».

A historiadora indica ainda hotéis em Lisboa e na zona de Cascais onde se alojavam ou encontravam espiões de cada um dos lados em conflito.

«O Tivoli, hotel de luxo, situado na Praça dos Restauradores, tinha mesmo, no 4.º andar, um corredor que ligava directamente ao cais dos comboios da estação do Rossio, para possibilitar a chegada incógnita e sem controlo policial de personalidades importantes e espiões», explica Irene Pimentel.

Considerados pró-britânicos eram o Hotel Metrópole e o Aviz, em Lisboa, enquanto na linha de Cascais o Grande Hotel da Itália e o Hotel Palácio eram os preferidos dos Aliados.

No Hotel Palácio estiveram alojados, segundo Irene Pimentel, o «conhecido agente triplo Dusko Popov ('Triciclo')» - que também esteve instalado no Aviz -, o agente duplo Juan Pujol ('Garbo') e Nubar Gulbenkian, filho de Calouste Gulbenkian, que «trabalhou para os serviços secretos britânicos».

A historiadora adianta que Harold 'Kim' Philby - um dos mais famosos espiões do século XX que desertou para a União Soviética em 1963 após uma carreira nos serviços secretos britânicos -, Ian Fleming, criador de James Bond, e o escritor Graham Greene (O nosso agente em Havana, O fim da Aventura) passaram também pelos hotéis da zona do Estoril.»


Fonte: SOL


Portugal - Segunda Guerra Mundial

Cronologia de acontecimentos relevantes para Portugal


«1939
17/03 - Salazar e Franco celebram o Pacto Ibérico, Tratado de Amizade e Não Agressão.
14/04 - O governo português recusa o convite da Itália para se juntar ao Pacto Anti-Komintern


01/09 - Começa a II Guerra Mundial, com a invasão alemã da Polónia.

02/09 - O governo reafirma a posição de neutralidade de Portugal na guerra através da Nota Oficiosa da Neutralidade Portuguesa no Conflito Europeu.

14/12 - O Decreto-Lei n.º 30.137 atribui ao governo, às estruturas corporativas e aos organismos de coordenação económica competências alargadas em matéria de fixação de preços e definição de quotas de distribuição de alguns produtos a importar ou destinados à exportação.

1940

- Cerca de 100 000 jrefugiados, na maioria judeus, conseguiram chegar à Península Ibérica. Espanha acolheu um número limitado de refugiados e logo em seguida enviou-os para o porto de Lisboa. Da capital portuguesa milhares de refugiados conseguiram embarcar rumo aos Estados Unidos entre 1940 e 1941. Há 59 anos dezenas de crianças austríacas foram salvas ao serem enviadas para Portugal onde cresceram em famílias de acolhimento.

06 e 07/06 - A Alemanha invade França. A posição da Península Ibérica, nomeadamente de Portugal, altera-se radicalmente com a possibilidade de lançamento da «Operação Félix» (invasão de Espanha e, caso necessário, Portugal para conquistar Gibraltar).

12/06 - É divulgada a declaração conjunta de neutralidade dos governos português e espanhol, sendo afirmado pelo governo de Salazar a «estrita neutralidade» de Portugal.

29/06 - O governo português temendo a independência da metrópole face à «Operação Félix» consegue fazer com que Espanha assine um protocolo adicional ao Tratado de Não Agressão.

Dezembro - Iniciam-se negociações militares para assegurar a protecção e o apoio inglês a um plano de retirada do governo português para os Açores em caso de um ataque alemão ou espanhol.

1941

11/07 - A Legião Portuguesa congratula-se com a invasão da URSS pela Alemanha em 22 de Junho. Estreitam-se os laços económicos com a Alemanha.

04/12 - Depois do ataque japonês a Pearl Harbour, os Estados Unidos declaram guerra contra as potências do Eixo e criam uma nova ameaça a Portugal porque o presidente norte americano considerou a opção da invasão de Portugal e seus territórios insulares. Salazar responde com um protesto e dá ordens para que as tropas portuguesas respondam a qualquer ataque. Roosevelt acaba por pedir desculpa a Portugal.

1942

31/03 - Bloqueio económico imposto pelos Aliados provoca racionamento de bens essenciais. Salazar é obrigado a aceitar negociar, no verão de 1942, um acordo comercial de guerra nos termos impostos pela Grã-Bretanha.

Out./Nov. - Forte surto grevista na Grande Lisboa.

1943

31/01 - O marechal Friedrich von Paulus capitula em Estalinegrado.

Maio - A Tunísia cai para os aliados. A Inglaterra solicita ao governo português autorização para a permanência aliada nos Açores, para o abastecimento de aviões provenientes da América. O pedido é acompanhado da ameaça de uma invasão do arquipélago em caso de recusa.

17/08 - É assinado o acordo em que Portugal se compromete a ceder a base das Lajes nos Açores, bem como providenciar o reabastecimento dos navios ingleses. O acordo fica dependente do compromisso assumido pelo Governo Britânico de prestar ao Governo Português apoio e auxílio militar no caso de ataque.

Os EUA que não estavam incluídos neste acordo querem ter os mesmos benefícios. Salazar aceita e estabelece que os EUA devem construir um aeroporto na Ilha de Santa Maria, mas que essas instalações passariam para a propriedade do Estado português no final da guerra.

De 1941 a Janeiro de 1944 a disputa pelo volfrâmio foi uma questão essencial. A Grã-Bretanha dominava a maior parte da produção do minério em Portugal. O embaixador britânico apresenta em Lisboa uma exigência de embargo à exportação de volfrâmio para a Alemanha. Salazar resiste enquanto pode perante a pressão dos aliados, sob forma do estrangulamento económico e ameaças à integridade do espaço colonial, desiste de algumas condições que tinha colocado. A 12 de Junho decreta, não o fim da exportação de volfrâmio para a Alemanha mas o encerramento geral das minas e o fim da exportação do minério para todos os países.

1944

25/05 - Realiza-se o II Congresso da União Nacional. Na abertura do congresso, Salazar apresenta a política de «preparação nacional para o pós-guerra».

06/06 - Dia D ou a Invasão da Europa por forças aliadas.

28/11 - Portugal e os Estados Unidos assinam um acordo de concessão de facilidades militares nos Açores, que será mantido secreto.

1945

30/04 - Hitler suicida-se no bunker da Chancelaria de Berlim.

03/05 - O governo de Salazar decreta luto oficial de três dias pela morte de Hitler.

07/05 - As tropas alemãs capitulam em Reims, capitulação confirmada a 08 de Maio em Berlim.

19/05 - Manifestação de apoio ao Estado Novo, a Salazar e ao presidente Carmona, organizada pelas câmaras municipais e governos civis dos distritos.

06 e 09/08 - O presidente americano Harry Truman ordena o lançamento de bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui.

17/08 - Os japoneses autorizam que o governador português volte a exercer o seu cargo em Timor mas mantêm as suas tropas que acabam por se retirar a 05 de Setembro. A rendição acabou por ser feita a uma delegação australiana e a administração do território voltou para as mãos dos portugueses a 27 de Setembro de 1945.

02/09 - O Japão assina o acto de capitulação e termina a Segunda Guerra Mundial.»


Fonte: SOL