02 março 2009

Portugal na Grande Guerra - Corpo Expedicionário Português (CEP) - Parte IV

Os "Soldados Conhecidos" da Grande Guerra


Diz-nos a já referida Visão História «que entre os soldados desconhecidos que integravam a malta das trincheiras figuraram escritores, pensadores, intervenientes políticos. Recordemos alguns deles» :

«Augusto Casimiro dos Santos, que frequentou estudos universitários em Coimbra e o curso de Infantaria da Escola do Exército. Poeta e cronista, rapidamente ao ideais republicanos da Revolução de 1910.

André Brun, capitão de infantaria, escritor e professor auxiliar no Colégio Militar, embarcou no dia 18 no comboio que o levou até á Flandres.

D. José Do Patrocínio, foi um dos perto de 20 capelães militares que se ofereceram, no âmbito da comissão de Assistência Religiosa em Campanha. Em Dezembro de 1917 foi nomeado capelão-chefe, cargo que ocupou até ao final da guerra. Pouco mais tarde foi nomeado Bispo de Beja, onde ficou conhecido devido á sua participação na guerra como «Bispo-Soldado».

Hernâni Cidade, professor de Literatura Portuguesa no Liceu de Leiria parte de Lisboa no dia 17 de Abril de 1917 para frente na Flandres onde resgata da "terra de ninguém" vários portugueses feridos. Prisioneiro de Guerra, estuda o alemão e regressa a Portugal em Fevereiro onde ingressa como professor na Faculdade de Letras do Porto.

Jaime Cortesão, republicano convicto e eleito deputado em 1915 oferece-se como voluntário e publica em 1919 Memórias da Grande Guerra (1916-1919).

João Pina de Morais, ingressa na carreira militar em 1907 e em 22 de Abril 1917 embarca para a Flandres. Sofre os efeitos dos gases, continuando em combate sem receber tratamento médico. João Pina de Morais é autor da legenda do túmulo do Soldado Desconhecido no Mosteiro da Batalha : «Portugal eterno nos mares, nos Continentes e nas Raças, ao seu Soldado Desconhecido morto pela Pátria. Grande Guerra, 1914-1918»».


Estes são alguns soldados portugueses que até ao inicio da guerra eram já "conhecidos", mas há no entanto uma história curiosa de um soldado até então desconhecido entre os portugueses: "o soldado Milhões".
Existem no vasto mundo da Internet vários sítios que têm informações sobre sobre a possível historia de Aníbal Augusto Milhais, e a revista acima referida também nos descreve a história deste nosso valente soldado.

«Tudo acontece no dia 9 de Abril de 1918, durante a batalha dita de La Lys, ele ficou para trás aquando a retirada do seu batalhão (desobedecendo á ordem de retirar) e cobriu então a retirada dos seus camaradas portugueses e escoceses. Salvou assim a vida a muita gente, arriscando a sua própria. Mas também ele escapou sem um arranhão para contar a História. Foi aclamado herói nacional tendo sido homenageado com a mais alta condecoração do País: a Ordem de Torre Espada do Valor, Lealdade e Mérito».
«O louvor não menciona o frio, a fome, nem o terror. Mais se conta que poucas horas depois do ataque alemão sobre as forças portuguesas, as tropas alemães começaram a conquistar as posições portuguesas na primeira linha, e foi ai que a 2ª divisão de Infantaria acorreu para cobrir a retirada dessas tropas da frente. Numa dessas unidades da 2ª divisão servia o metralhador Aníbal Augusto Milhais.

A partir de dia 9 conta-se também a seguinte história: Augusto Milhais andou então perdido na planície devastada e alagada da Flandres. Escondeu-se nas ruínas, nos drenos cheios de agua ou nas carcaças dos cavalos, para evitar as tropas alemães. Mas, quando se proporcionava, procurava a melhor mascara para embosca-las e varre-las a leque. Foi assim, escondido que salvou um grupo de escoceses de serem capturados, disparando sobre os alemães que os perseguiam. Andou nisto de 9 a 13 de Abril, e no ultimo dia, salva de se afogar nas águas do Lys um major escoceses que fora feito prisioneiro mas que conseguira escapar.
O seu comandante de Batalhão, o então major João Maria Ferreira do Amaral, chamou-o para junto dos oficiais, cumprimentou-o e ouviu a sua versão dos acontecimentos, que coincidia com a dos escoceses. E reza a lenda, ter-lhe-á dito: «Chamas-te Milhais, mas vales Milhões», foi então que a alcunha pegou.»


Conta-nos também Martin Gilbert no seu livro a seguinte passagem relativamente a um soldado Francês até então desconhecido: «Nos campos de batalha da Europa, a luta era contínua e acesa. A 13 de Agosto, tropas francesas foram apanhadas por fogo cerrado da artilharia alemã perto de Dinant, tendo os seus movimentos sido detectados por um avião alemão de reconhecimento. Tendo recebido ordens para evitar o avanço da infantaria alemã por uma ponte, o comandante de um pelotão francês colocou os seus homens directamente sobre fogo. Ao chegar á ponte, foi ferido num joelho e caiu. Pouco depois, o sargento do pelotão caiu por cima dele, morto. O tenente recordou mais tarde "o ruído das balas a entrar nos corpos de mortos e feridos, que havia por todo lado". Com dificuldades arrastou-se para longe. Foi o baptismo de fogo de Charles de Gaulle. Foi transportado para um hospital em Paris, longe da acção, mas desejoso de regressar á frente.»

Outros soldados de outras nações em conflito, cujas vidas foram moldadas pela guerra combatiam com a mesma ferocidade e coragem dos soldados acima descritos. Pessoas que o mundo ainda não conhecia, entre as quais: Ernest Hemingway, Bertolt Brecht, Vera Mary Brittain, Josef Tito, Benito Mussolini, David Ben-Gurion, Mustafa Kemal e um dos mais insignificantes de todos até então...Adolf Hitler.

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