Nada melhor do que André Brun, (em "A Malta das Trincheiras") para nos descrever a Terra de Ninguém, na Flandres durante a Primeira Guerra Mundial onde o Corpo Expedicionário marcou presença.
«Entre a nossa linha e a sua um terreno vago, cavado de crateras, nesta altura do ano cheio de ervas e onde teimam em medrar alguns arbustos. É a terra que nem é nossa, nem do inimigo, o no man's land dos ingleses, a terra de ninguém. Os poilus de França encontram para a designar um termo de alto pitoresco. Chamam-lhe le billard. (...)
Nos intervalos das ofensivas, nos meses intermináveis da guerra puramente de trincheiras, é na terra da ninguém que se trava toda a luta de infantaria. De dia é serena. Mirada dos postos de observação é uma tranquila faixa de terreno, onde a vegetação ondeia no vento. De longe em longe, a certas horas da tarde, levanta-se nela, após um estampido longínquo e um silvo rápido, um geyser de terra. É uma granada de regulação de tiro, que procura os arames ou refereência ás primeiras linhas. (...)
Mas a noite cai e então a terra de ninguém é cheia de mistérios, povoada de perigos que se não vêem. Cada sombra que nela gira é uma patrulha, cada rumor vago que nela se ouve é um inimigo rastejando, e a morte que espreita, a cilada que se prepara. Cautelosos, aproveitando a escuridão da noite, saem os grupos que vão trabalhar no reforçamento do nosso arame; antes saíram as patrulhas para protecção que cobrem o trabalho com a sua vigilância e, rasando as ervas, batendo o arame, cortando a aresta do parapeito, começam a passar as rajadas das metralhadoras boches. Ao primeiro tiro todos se deitam, se acachapam.
A metralhadora cala-se e, lentamente, evitando o menor ruído que fixe a atenção do vizinho defronte, todos se erguem e o trabalho recomeça, para cessar dali a pouco interrompido por outra metralhadora que estala acima e cujo leque mortífero se abre e se aproxima. (...)
Em certas noites a terra de ninguém animava-se de súbito. Sentiam-se estalar granadas de mão. Duas patrulhas se tinham encontrado, e adivinhava-se na escuridão o corpo-a-corpo, a luta feroz sem quartel. As duas linhas iluminavam-se de fogachos, saíam reforços, angustiosamente se esperava a chegada de um dos combatentes para contar a refrega. Outras vezes o boche chegava aos nossos arames, buscava uma entrada para surpreender uma sentinela, e era o alarme correndo a linha toda, as Lewis fazendo fogo infernal, as granadas de espingarda silvando e estoirando.»
Fonte: A Malta das Trincheiras, André Brun
Imagem: Terra de Ninguém, in Ilustração Portuguesa
Nos intervalos das ofensivas, nos meses intermináveis da guerra puramente de trincheiras, é na terra da ninguém que se trava toda a luta de infantaria. De dia é serena. Mirada dos postos de observação é uma tranquila faixa de terreno, onde a vegetação ondeia no vento. De longe em longe, a certas horas da tarde, levanta-se nela, após um estampido longínquo e um silvo rápido, um geyser de terra. É uma granada de regulação de tiro, que procura os arames ou refereência ás primeiras linhas. (...)
Mas a noite cai e então a terra de ninguém é cheia de mistérios, povoada de perigos que se não vêem. Cada sombra que nela gira é uma patrulha, cada rumor vago que nela se ouve é um inimigo rastejando, e a morte que espreita, a cilada que se prepara. Cautelosos, aproveitando a escuridão da noite, saem os grupos que vão trabalhar no reforçamento do nosso arame; antes saíram as patrulhas para protecção que cobrem o trabalho com a sua vigilância e, rasando as ervas, batendo o arame, cortando a aresta do parapeito, começam a passar as rajadas das metralhadoras boches. Ao primeiro tiro todos se deitam, se acachapam.
A metralhadora cala-se e, lentamente, evitando o menor ruído que fixe a atenção do vizinho defronte, todos se erguem e o trabalho recomeça, para cessar dali a pouco interrompido por outra metralhadora que estala acima e cujo leque mortífero se abre e se aproxima. (...)
Em certas noites a terra de ninguém animava-se de súbito. Sentiam-se estalar granadas de mão. Duas patrulhas se tinham encontrado, e adivinhava-se na escuridão o corpo-a-corpo, a luta feroz sem quartel. As duas linhas iluminavam-se de fogachos, saíam reforços, angustiosamente se esperava a chegada de um dos combatentes para contar a refrega. Outras vezes o boche chegava aos nossos arames, buscava uma entrada para surpreender uma sentinela, e era o alarme correndo a linha toda, as Lewis fazendo fogo infernal, as granadas de espingarda silvando e estoirando.»
Fonte: A Malta das Trincheiras, André Brun
Imagem: Terra de Ninguém, in Ilustração Portuguesa
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