05 março 2009

Gastão de Freitas Ferraz

Esta semana, mais precisamente no dia 4 (Quarta-feira) os média portugueses deram-nos a História de um espião português ao serviço dos nazis.
O Público "fez" capa com o seguinte titulo: «2ª Guerra, captura de Gastão Ferraz, espião ao serviço dos nazis, mudou o curso do conflito»; também o Diário Noticias disse: «
O português que espiou para as forças de Hitler» e a SIC on-line também nos dá alguma informação: «Espião nazi português podia ter mudado curso da História»

nationalarchives.gov.uk
Imagem retirada dos arquivos do MI5 de Gastão de Freitas Ferraz

«O ficheiro pertence á categoria Agentes secretos alemães e suspeitos, ostenta o código KV 2/2946 - 2947 e foi transferido ontem dos arquivos do MI5, os serviços britânicos de segurança interna, para os Arquivos Nacionais do Reino Unido.» È aqui que surge «um nome português - Gaspar de Freitas Ferraz, um operador de comunicações da Marinha portuguesa que, notava ontem a imprensa mundial, mudou o rumo da II Guerra Mundial. Ou melhor, a captura e prisão deste que fez trabalhos de espionagem ao serviço da Alemanha nazi terão contribuído para apanhar desprevenidas as tropas alemãs e francesas estacionadas no norte de África.
Nos primeiros dias de Novembro de 1942 e uma semana depois de ter sido detido pela Marinha Britânica durante uma operação no alto mar, a bordo do navio Gil Eannes, onde trabalhava, as tropas britânicas e norte-americanas desembarcaram em Marrocos e na Argélia, dando inicio a longos combates que só terminaram em 1943, com a derrota do exercito nazi. A agência Associated Press citava ontem o historiador Cristhoper Andrew, professor na Universidade de Cambridge e autor convidado para escrever a história do MI5, para sublinhar a importância da detenção de Freitas Ferraz. Apontando que as forças lideradas pelo general alemão Erwin Rommel estavam longe de imaginar que o ataque dos aliados seria feito no Norte de África (julgavam que estes apontavam o alvo para França e Noruega), Andrew salientou que a crença alemã não teria acontecido, "se Freitas Ferraz não tivesses sido capturado": "Ele estava no encalço das tropas [general George] Patton e teria informado os alemães sobre o rumo dos norte-americanos." Rui Araújo, jornalista e ex-provedor do leitor do PÚBLICO, escreveu abundantemente sobre este caso no livro O Diário Secreto Que Salazar não leu (Oficina do Livro), publicado em Outubro passado. Nesta Obra, Araújo, que vasculhou arquivos nacionais e estrangeiros, conta a historia detalhada do Gil Eannes e persegue o trajecto biográfico de Freitas Ferraz. Este, pode ler-se no livro, transmitia as suas informações para uma rádio clandestina localizada na zona do Estoril e mantida por dois operacionais alemães(...) A abertura da ficha do espião permite aceder a um depoimento biográfico escrito na primeira pessoa e a uma confissão os seus trabalhos de espionagem - depois de ter sido detido, foi levado para Gibraltar e depois para o Campo 020, um estabelecimento dos serviços secretos britânicos, situado no arredor de Londres. Freitas Ferraz ficou ali prisioneiro ate Setembro de 1945 e foi deportado no mesmo ano. Só em 1953 o seu nome foi rasurado de uma lista de deportados até então impedidos de viajar para a Grã-Bretanha. E dois anos depois o MI5 arquivou o seu ficheiro(...) Na ficha do MI5 pode ler-se que os espião foi recrutado (o ano não é confirmado) pela Abwehr, um serviço de espionagem germânico criado em 1921 e aparentemente extinto em 1944. Em Julho de 1942, contudo as suas comunicacões foram interceptadas pelo ULTRA, um órgão dos serviços secretos britânicos responsável pela intercepção de mensagens encriptadas, emitidas via rádio.»

em PÚBLICO, nº6910

The National Archives: http://www.nationalarchives.gov.uk/documentsonline/details-result.asp?Edoc_Id=8198740

"Diário Secreto que Salazar não Leu"
Autor: Araujo, Rui
Editora: Oficina do Livro

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