Portugal
«Os anos 40 deste século foram dominados pela Segunda Guerra Mundial. Em Portugal, o regime de Salazar adoptava uma posição neutra mas as suas simpatias tinham uma inclinação pró-Nazi. A censura e a repressão às liberdades civis ajudaram enormemente a popularização das transmissões em língua portuguesa da BBC, particularmente entre os círculos da oposição. E como é sabido: "O Estado Novo e, portanto, Salazar pessoalmente, tentou, e conseguiu em alguns casos, interferir na linha editorial da BBC de várias formas"
Fernando Pessa, um dos principais apresentadores da altura, tornou-se numa figura de culto, apesar de ter sido isolado pelas autoridades portuguesas no seu regresso a Portugal a seguir à Segunda Guerra Mundial.
Depois da Guerra, as transmissões da BBC passaram a prestar mais atenção a programas e magazines radiofónicos. Os noticiários continuaram a ter alguma importância, em vista da reconstrução política e económica da Europa e da contínua presença de um regime autoritário de direita em Portugal. Contudo, os temas culturais dominaram o conteúdo das nossas emissões na década de 40. Entre o staff e os colaboradores recrutados na altura estavam alguns intelectuais de grande calibre como Afonso Casais Monteiro e António Pedro.
O novo clima de Guerra Fria na Europa e as boas relações existentes entre a Grã-Bretanha e a ditadura portuguesa levaram ao encerramento do Serviço de Língua Portuguesa da BBC no final da década de 40.
Contudo, em 1961, com o surgimento das aspirações independentistas de África e com o início das guerras coloniais em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, e as consequentes pressões internacionais sobre o regime português, os novos transmissores da BBC em Ascenção permitiram o reinício das transmissões em português para a Europa e para África. Do início dos anos 60 a meados dos anos 70, assistiu-se à "era dourada" da Secção. A maioria do seu pessoal era composta por jornalistas portugueses bem conhecidos da imprensa escrita e a Secção reconstruiu uma nova reputação pela sua cobertura imparcial dos acontecimentos noticiosos, transmitindo para uma vasta área de ouvintes de língua portuguesa afectados pela censura política e de guerra. Contudo, é importante notar que os programas para África eram feitos por jornalistas europeus para uma audiência maioritariamente europeia em África.
Em 1974, como resultado da Revolução Portuguesa que levou à queda do regime de Lisboa e à queda do Império Português em África, a BBC continuou a desempenhar um importante papel numa fase muito conturbada, em que a liberdade de expressão permitia o acesso a notícias de opinião sólida. Contudo, e porque a democracia não era de todo amiga da BBC, as audiências começaram a diminuir, e durante alguns anos a sobrevivência da Secção acentou muito mais em exposições, seminários e exercícios de relações públicas do que no impacto directo das suas emissões.
Foi em 1982 que o primeiro jornalista africano de língua portuguesa foi recrutado. A iniciativa reflectiu um novo pensamento na preparação de terreno para a transferência de mais atenção e recursos para as transmissões para África.Vários outros profissionais africanos foram subsequentemente contratados.
As novas tecnologias faziam também a sua entrada na Secção; as retransmissões via satélite permitiam que se tentasse injectar uma nova vida aos programas da Secção para as audiências de língua portuguesa na Europa. Na verdade, a Secção de Língua Portuguesa da BBC foi a primeira da Bush House a retransmitir diariamente em directo - em FM - para a Rádio Renascença que, por sua vez, transmitia à escala nacional Portugal. Essas transmissões começaram em Janeiro de 1988. Nos finais dos anos 80, as guerras civis devastavam Angola e Moçambique, e noutras partes dos recém independentes países africanos de língua portuguesa estava em curso a aposta no estabelecimento de democracias parlamentares. A Secção estava agora a transmitir tanto para a Europa como para África e tinha uma equipa de profissionais africanos e europeus. As suas transmissões estavam finalmente a fazer um impacto que mais nenhuma estação estrangeira conseguia, incluindo a própria rádio portuguesa, apesar mesmo dos velhos laços culturais e novos laços políticos com as suas antigas colónias africanas.
Em 1994 - com Portugal então já membro de pleno direito da União Europeia e da NATO, e a gozar de uma estabilidade política e plena liberdade de imprensa, por entre uma explosão de novas rádios e crescente impacto da televisão - a BBC encerrou as suas operações em língua portuguesa para Portugal. A Secção passou para a nova Região Africana da BBC. Mas continua a transmitir para a Europa, alcançando um vasto número de ouvintes portugueses e africanos espalhados por Portugal, França, Bélgica, Holanda e pelos países da Europa do Leste. Contudo, a ênfase é agora colocada muito mais nos ouvintes africanos em África, onde as emissões da BBC desempenharam um importante papel nos processos de paz ocorridos nos últimos anos. A BBC contribui agora para uma nova consolidação da democracia e responde às novas necessidades de programas educacionais. Com a descentralização da informação em muitas partes da África de Língua Portuguesa, as transmissões em Onda Curta continuam a jogar um papel importante na penetração em vastas áreas de difícil acesso e de grandes necessidades. Em resposta a um novo clima informativo, foram assinados acordos de retransmissão em FM com a Rádio Nova de Cabo Verde, com a Rádio Cidade da capital moçambicana, Maputo, e com a Rádio Bombolom, na Guiné-Bissau(...)»
Fontes:
Wikipedia.org
BBC Portuguese History